Por GUSTAVO FALABELLA ROCHA
A odisséia para chegar a Belo Horizonte já daria uma boa estória. Sem visibilidade suficiente no aeroporto, o vôo que traria o grupo tcheco Farm in the Cave para Belo Horizonte foi cancelado. Então, depois de alugar um micro ônibus e 16 horas de estrada, o grupo chega à cidade. O grupo esteve no Festival de Londrina com mesmo o espetáculo que virá ao FIT BH, "Escravo - A Canção de um Emigrante". E junto de outros três espetáculos abre a primeira noite do Festival.
Viliam Docolomansky traz um semblante cansado, mas não deixa de ser simpático apesar da longa viagem, o Farm chegou a BH às 4h da madrugada. A coletiva marcada para 14h começa pontualmente. Ainda sem almoço, o diretor do espetáculo "Escravo - A Canção de um Emigrante", fala sobre o processo de montagem e as motivações do trabalho. Tendo em sua formação diversos atores de origem eslava, o grupo procurou as comunidades rutenas (Leste Europeu) que têm tradições muito peculiares. Através de cartas de emigrantes da região nos EUA, o grupo colheu estórias que passaram a integrar seu espetáculo. Além disso, cantos ligados a emigrantes foram incorporadas ao trabalho, as canções foram aprendidas e transformadas com o tempo. Essa combinação de elementos pesquisados foi o que permitiu ao grupo chegar à fonte das questões ligadas à emigração. "O emigrante tem uma vida muito árida. Sente-se estrangeiro em um país que não é seu. Lá ele não tem direitos sociais, laços familiares, plano de saúde etc", garante o diretor.
O diretor, eslovaco radicado na República Tcheca, lembra que a palavra Sclavi quer dizer tanto eslavo como escravo. A condição precária - certa escravidão - vivida por vários emigrantes é tratada de maneira mais metáforica dentro do espetáculo. "Buscamos uma poesia que vem do movimento", ressalta Docolomansky. E lembra que a questão central do espetáculo é "Onde é minha casa?". Os Rutenos são um povo que não possuem uma nação, uma bandeira. As tradições são passadas de geração para geração através de uma comunicação direta. Esse fato faz com que a temática do espetáculo seja ainda mais próxima dos integrantes do Farm.
- O estrangeiro que sai de seu país sempre espera o dia em que voltará para casa e idealiza que o tempo não passará enquanto ele estiver longe. Só que o tempo passa, e sua volta nem sempre é bem-vinda. Os filhos crescem, a mulher arruma outro esposo, tudo muda - lembra o diretor.
"Essa busca por um lar, talvez, só se encerre quando morrermos", profetiza. Falando sobre o Brasil, Docolomansky lembra do longo período de escravidão: "vocês são um pais de emigrantes!", ressalta.
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